terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Ainda a educação

A educação é um tema que, pela sua importância, será transversal neste blog (pelo menos, no meu ponto de vista). Noto, com especial interesse, o olhar que o João nos deu com o seu artigo. Chama-nos a atenção para o ligeiro! (SIC) atraso que temos em relação quer aos Estados Unidos, quer ao seu conhecimento real do que acontece na França.

Por estes dias, a massificação do ensino, nomeadamente do ensino superior, voltou a ser um assunto a comentar, não necessariamente com o objectivo de o alterar, mas comentar... Hoje, Miguel Gaspar fala sobre isso no seu artigo de opinião semanal e, no passado sábado foi entrevistado Alberto Amaral, presidente do A3ES - organismo responsável pela avaliação dos cursos. Em ambos se comenta o, eventual, excesso de entidades e de cursos de ensino superior. No entanto, a visão de cada um é substancialmente diferente, salientando a diminuição do nível de exigência mostrada por Alberto Amaral.

E a exigência no ensino é provavelmente um factor que será determinante para conseguir recuperar o lag que temos para países como os EUA ou França. Reparem que apesar da evolução que tivemos desde o 25 de Abril, continuamos com um atraso considerável (como disse o João, ou como disse Villaverde Cabral ao I: "Nos Estados Unidos, a taxa de escolaridade até ao 12º ano era de 100% ainda antes da Segunda Guerra Mundial; em Portugal o ensino obrigatório até aos 18 anos só acontecerá a partir de 2013").

Assim, precisamos de, não só evoluir estatisticamente no acesso à educação - e aqui a sua massificação é importante - mas temos que criar factores que nos permitam crescer a um ritmo superior e evoluir qualitativamente.

Não sei se esta problemática se resolve com nova injecção de dinheiro público. Teremos, no entanto que ver mais além, que criar novas abordagens, novas soluções e ser mais desafiantes connosco próprios.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Pra nós a crise é chinesa: Perigo vs Oportunidade

Dado sequência ao que se tem falado, queria nas próximas linhas focar-me em duas temáticas que, a meu ver, estão intrinsecamente ligadas: a crise e o empreendedorismo. De crise já todos os media têm falado no último ano e meio (digo crise económica e financeira). Todos sabemos os motivos da crise e o que fazer para a superar…e isto dizem-nos os economistas, os sociólogos, que olham para um conjunto de resultados devastadores que teve uma economia baseada no capitalismo e na especulação. Provou-se (mais uma vez na história) que o capitalismo à uma série de anos anunciado pelos americanos é enganador e promotor de injustiça social.

Pessoalmente concordo com Fidel Castro: não será Obama o anjo que resolverá a problemática do capitalismo…...nem Obama nem ninguém. Apenas quando virmos nações, povos, coordenados com o objectivo comum de desenvolvimento (uns mais à frente outros mais atrás devido ao histórico de cada um) podemos sonhar com um mundo melhor. Para isso terá que mudar o paradigma de desenvolvimento social do nosso mundo: eu acredito que isso será feito (sou um optimista por natureza), acredito que o mundo tende à unidade, mas talvez nenhum daqueles os que actualmente conhecemos o verão concretamente…Crise económica, crise social, crise de valores, crise … de fé? Crise, crise, crise….

Crise em chinês escreve-se com dois caracteres: um significa perigo e o outro oportunidade. Quando vejo esta expressão olho para a ‘personagem crise’ e vejo-a num limbo. Esta personagem está parada, reflecte, olha para a esquerda, olha para a direita...de um lado vê o perigo, vê que a base que suportava a sua vida esmoreceu, entende algo terá de mudar senão caminhará para o abismo….do outro lado esta personagem olha para o futuro, olha para aquilo que quer fazer, olha para os sonhos inscritos em cada ser deste planeta….e olha para a ‘oportunidade’. Aqui entra o empreendedorismo sobre o qual eu procurei informar-me.

É empreendedor quem, por iniciativa própria, realiza acções! ou idealiza novos métodos com o objectivo! de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer actividades! de organização e administração. Esta atitude depende de vários factores. Acredito que existem pessoas mais predispostas para o empreendedorismo que outras. Aqui cito algumas conclusões a que um estudo europeu chegou sobre as nossas gentes:

Como é a dinâmica empreendedora em Portugal?
A dinâmica empreendedora em Portugal é fraca, tal como se pode comprovar pelo GEM – Global Entrepreneurship Monitor (o GEM é um projecto internacional que tem como objectivo analisar a relação entre o nível de empreendedorismo e o nível de crescimento económico em vários países e, simultaneamente, determinar as condições que fomentam e entravam as dinâmicas empreendedoras em cada país). Assim, de acordo com o estudo referido, em 2001 Portugal ocupa o 21º lugar em termos de empreendededorismo entre os 29 países em análise.

Quais as razões que explicam o baixo investimento português em educação e formação em empreendedorismo?
- Predominância de uma atitude avessa ao risco, transmitida entre gerações;
- Ausência de vocação ou experiência empreendedora dos professores;
- Sistema de ensino destituído de conteúdos e instrumentos adequados para o efeito;
- Quase inexistente ligação entre o mundo dos negócios e a escola.


Penso que estas quatro razões acima mencionadas explicam muita coisa. O empreendedorismo vai ser necessário para sairmos de uma crise económica: muitas empresas fecharam portas por isso muitas terão de abrir ‘janelas’. A nossa e as próximas gerações terão de resolver passo a passo estas 4 problemáticas…Mas, no entanto, cada um de nós pode mudar a sua atitude, pode inovar aquilo que foi o comportamento dos nossos pais e avós, aquilo que porventura está enraizado na nossa cultura: a aversão ao risco, o queremos estar sempre na zona de segurança….Penso que a maior parte de nós, pessoas formadas, temos condições para termos ideias, um plano e não ‘abortar’ aquilo que pode ser uma empresa/uma associação/... promotora de uma melhor sociedade. Também aqui abre-se um diálogo para discussão: para arriscar e criar algo é necessário também ponderação e na certeza de que nada se faz em dois tempos….criar uma ideia…sustentá-la…vivê-la….experimentá-la….vê-la crescer….olhar para trás e ver um caminho feito.

Deixo este post com a velha máxima: quem não arrisca….não petisca!!!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Bem educados!


O texto do Afonso sobre a "Geracao Perdida" anda-me na cabeca ha varios dias.
A geracao perdida no final dos anos 00 a seguir a geracao rasca dos anos 90.
O que e que esta a correr mal? Nao sao estas as geracoes mais bem preparadas que o pais ja teve? Parece que o investimento feito no ensino dos portugueses e transparente na sociedade, nas artes, na participacao na vida publica, na economia. Ha um certo desprezo pelo cada vez maior numero de portugueses que tem estudo superiores. De facto ha a sensacao de que "o curso nao serve para nada" e a impressao de que a universidade fosse um balao de ensaio de uma experiencia que nunca sera reproduzida.

Sera assim?!

Abro o site do "i" e vejo "Ensino. Portugal esta no mesmo ponto de partida de ha 50 anos". O investimento na educacao e, no entanto, inegavel:
Em cinco décadas, o número de crianças no pré-escolar cresceu 40 vezes, a taxa de escolaridade no ensino secundário escalou de 1,3% para 60% e o acesso das raparigas ao ensino subiu 15%.
No entanto nao nos aproximamos dos paises mais desenvolvidos. Mais a frente le-se:
"Nos Estados Unidos, a taxa de escolaridade até ao 12º ano era de 100% ainda antes da Segunda Guerra Mundial; em Portugal o ensino obrigatório até aos 18 anos só acontecerá a partir de 2013."
"Houve uma massificação do acesso ao ensino, mas a qualidade não acompanhou essa evolução"
"O sistema educativo antes do 25 de Abril era realmente mau, porque 99% da população estava excluída da escola"
Parece-me entao que o esforco de massificar o ensino e bem intecionado porque se vamos atingir em 2013 o nivel dos Estados Unidos em 1939... temos 74anos de atraso. O que falta e investir mais dinheiro no ensino. Muito mais!

Quanto melhor compreendo o sistema frances, melhor vejo a distancia a que Portugal esta. A universidade em que trabalho chama-se "Ecoles Nationale Superieures de Mines de Paris" e ha cerca de 150 anos que forma engenheiros civis especializados, como o nome indica, na exploracao de minas. E esta e uma das diferencas em relacao a Portugal: o sucesso nao vem por acaso e a sorte procura-se. Em Franca ha Universidades para tudo: para formar futuros professores das melhores universidades, para formar funcionarios publicos de alto nivel, para formar engenheiros que tornar-se-ao os lideres das empresas de topo. Quase todas as pessoas que ocupam os cargos mais importantes nos sectores publicos ou privados veem de uma destas escolas. Porque foram feitos para isso. Porque durante os seus estudos ja frequentavam os corredores de varios ministerios e das empresas do CAC40. E cada um destes alunos e visto como alguem com capacidades, que devem ser aproveitadas e desenvolvidas ao maximo. O acesso a estes estabelecimentos de ensino e obtido por concurso - muitas vezes um concurso especial de cada escola, independentemente dos concursos nacionais - e a sua frequencia nao so e gratuita como muitas vezes e ja remunerada e nalguns casos os alunos fazem ja parte da funcao publica e sao pagos como tal.

Outra das curiosidades em relacao a minha universidade e que, como o seu nome nao indica, muito cedo criou um Centro de Sociologia e tornou-se pioneira nesta ciencia. Porque e que uma escola de engenharia de minas se torna pioneira em sociologia?! Porque se interessa pela forma como os trabalhadores se organizam no trabalho. E e este espirito de curiosidade que nos falta. Aqui tudo e estudado. E nao falo de estudo de ponta, extremamente complicados. Muitas vezes sao bastante elementares, com conclusoes triviais mas muitas vezes tambem serviram para empregar um estagiario aluno de engenharia que pode assim ter um primeiro contacto com a realidade de uma empresa. E quando se tem os olhos abertos para estas coisas e se trabalha ha varias decadas em sectores como o automovel, aeronautico, energetico, percebe-se o conhecimento que se acumula nao so em termos tecnicos mas tambem de compreender o que e estar no topo e como la se manter.

A EDF financia varias teses de doutoramento de colegas meus. A EDP quantas financia? A TOTAL tambem. E a GALP, quanto investe em investigacao? Estas empresas que tem posicoes praticamente monopolistas dos mercados gracas ao investimento publico que permitiu a sua criacao, o que e que devolvem ao pais?

Aqui, parte dos impostos cobrados no imposto sobre os produtos petroliferos financia o Instituto Frances do Petroleo, que acumulou um conhecimento em processos petroliferos de tal forma importante que permitiu a criacao da Axens que hoje vende refinarias no mundo inteiro, concorrendo por exemplo com a americana UOP.

E esta diferenca de mentalidade que nos atrasa. Portugal foi uma potencia mundial quando soube mais cedo o que o resto do mundo descobriria decadas depois.

E desde a Revolucao Industrial que segue o caminho dos outros... com 74 anos de atraso.

Ligo a televisao na RTPinternacional: 30mins de Haiti, a opiniao de Mario Soares sobre o timming da candidatura de Manuel Alegre, a chapada do Sa Pinto ao Liedson, a tornee de Manuel Pinho nas empresas que nao fecharam e uma entrevista oca de Passos Coelho sobre as eleicoes no PSD...

pppfffffff...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Geração Perdida?

Saio do meu trabalho, e finalmente arranjo tempo para ler o jornal de domingo (link). O tema em destaque é-me particularmente querido - A geração perdida. Pelo intervalo de idades, tenho a "sorte" de nela não me incluir. Verdadeiramente, estou num limbo entre a geração dos recibos verdes e a geração dos contratos a prazo ou, para gosto do ponto de vista vigente, a geração dos estágios.
Pedro Lomba fala hoje dela outra vez, num ponto de vista diferente, sem tanto enfoque na realização profissional.  A verdade é que me revejo no que se escreveu. Esta insegurança, esta precariedade, este estágio e o próximo, esta busca eterna por algo que nunca chega a ser, que no momento se esvai. Basta ver os meus amigos e quantos deles estão efectivos? Quantos deles têm emprego? Quantos deles não estão a investigar/douturar porque é a úncia saída? Quantos, destes todos, estão felizes? Já nem falo em termos monetários... para isso basta ter ouvido um director numa entrevista de emprego: "Ofereço 600€ porque a esse valor tenho gente que queira para cá vir". É a lei da oferta, mas quem procura faz mal as contas, ou melhor, não tem outras contas para fazer.
Podemos, e devemos, questionar se o que se faz é correcto. Se a informação e forma como ela nos chega é a mais correcta. Se o modelo social existente consegue suportar a nossa ideia de sociedade, de país.
Fala-se, no artigo de domingo, das bolsas, de jovens que nuca virão a ter trabalho na sua área, de quem já desistiu, de quem ainda acredita, dos contratos a prazo, da educação... Mas devia ir mais longe. Não se questiona a razão desta precariedade. Não se fala de como os estágios popularam nos últimos anos, nem obviamente das consequências a isso inerentes.
Acredito que o futuro será diferente, mas existem paradigmas que deverão mudar. Terão que cair as barreiras ao despedimento e, correspondentemente, uma alteração no apoio ao desemprego - não digo que se deva acabar com o subsidio de desemprego!
As mudanças serão sempre difíceis, mas estamos num bom timing. A economia tenderá a crescer e com isso o sector privado terá maior peso. É preciso que haja coragem para mudar paradigmas. Mas, e por muito que o PS se torne um partido de centro-direita, as suas raízes farão com que não sejam feitas as alterações necessárias. É preciso mudança - de pessoas, de partidos e de mentalidades.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Proust

Volto ao "Expresso" e leio a entrevista com o Eduardo Lourenço, uma entrevista interessante - somos poucos e temos poucos assim.

Tem hábitos que gerações mais novas acham impensáveis: escrever à mão, não usar computador, nem googlar... Mas interrogo-me, ao ver falar sobre Goethe, Chateaubriand, Proust (entre outros), sobre estas gerações. Que identidade constroem, que saber se acumula, que outros conhecem... Duvido até que agora se recorra às enciclopédias... Qual Luso-Brasileira, qual Larousse se agora temos o Google e a Wikipédia.

Vejo o mesmo nos nossos políticos - terão lido e entendido? Ter-se-ão identificado com o pensamento de alguém? Terão construído o seu próprio pensamento fundado em algo?

Recordo-me quando inicialmente pensámos neste blog que um dos primeiros conselhos foi "lê, lê de tudo, tenta ler todos, só assim irás fundamentar as tuas opiniões e os teus textos e passar do "eu acho"". É um facto, o saber, o conhecimento, as próprias opiniões, não se formam de ver televisão, de googlar, nem mesmo de só ler outras opiniões e jornais. Tem-se que ler... Mas pouca gente lê... Por isso sim, concordo quando se diz que a nossa crise não é só económica, mas de valores - já nem os conhecemos...

Mal Haja!

Começo o ano a ler os últimos jornais de 2009 - "Público" e "Expresso", em cada um vejo uma década a passar, a folhear à minha frente. E ao mesmo tempo vejo o folhear de um ano... Que década é esta? Que ano passou? Vejo-me a mim a folhea(n)do nas páginas dos jornais. Revisito-me à medida que cada página muda... Vejo-me caloiro no Técnico (com uma questionada decisão). Vejo-me à sete anos, a conhecer a minha mulher, e vejo-nos de mão dada nas portas do Castelo. No "Expresso" leio as 1(1)0 perguntas: "Será Portugal campeão do mundo?", "Acabará a guerra no Afeganistão?" tudo balelas, tudo perguntas sem resposta, ou melhor... com resposta óbvia. Se é este o nível de questões que se nos colocam fico feliz. Escuso de me preocupar com o meu futuro. Mas olho com mais atenção... afinal temos perguntas mais acutilantes: "Cavaco voltará a ser um Presidente popular?" ou "Os banqueiros vão receber prémios?". Estou mais descansado... vejo que o ano em que entro vai ser brilhante.

Mudo de caderno, o "2º Caderno", olho para o que foram as "Melhores ideias de 2009" e vejo-me a mim... não, era bom! mas vejo a minha ideia. Vejo o que andei a pensar desde 2002... fui fazendo contas, fui evoluindo a minha ideia, mas nunca a passei a real. Mas vejo-a, agora e aqui no "Expresso". Bem haja é o nome da empresa, Mal haja quem me "roubou a ideia". Quem devo culpar? Não posso ser eu... tento a Marta pela sua busca de futuro em mim, mas não... tento o IST por me ter aprisionado tanto tempo, mas não... tento nós, portugueses, a nossa cultura, o nosso pensamento, nós... é sempre mais fácil.

E afinal não será esta minha derrota uma fotografia do que somos? Esta veia que nos une, que nos agarra ao comodismo, à segurança, esta senda do nacional-subsidianismo, esta falta de confiança para avançar. "Bem haja" a quem arrisca e "mal haja" a mim que me fiquei pela boa ideia... faltou-me concretizar.