domingo, 3 de janeiro de 2010

Mal Haja!

Começo o ano a ler os últimos jornais de 2009 - "Público" e "Expresso", em cada um vejo uma década a passar, a folhear à minha frente. E ao mesmo tempo vejo o folhear de um ano... Que década é esta? Que ano passou? Vejo-me a mim a folhea(n)do nas páginas dos jornais. Revisito-me à medida que cada página muda... Vejo-me caloiro no Técnico (com uma questionada decisão). Vejo-me à sete anos, a conhecer a minha mulher, e vejo-nos de mão dada nas portas do Castelo. No "Expresso" leio as 1(1)0 perguntas: "Será Portugal campeão do mundo?", "Acabará a guerra no Afeganistão?" tudo balelas, tudo perguntas sem resposta, ou melhor... com resposta óbvia. Se é este o nível de questões que se nos colocam fico feliz. Escuso de me preocupar com o meu futuro. Mas olho com mais atenção... afinal temos perguntas mais acutilantes: "Cavaco voltará a ser um Presidente popular?" ou "Os banqueiros vão receber prémios?". Estou mais descansado... vejo que o ano em que entro vai ser brilhante.

Mudo de caderno, o "2º Caderno", olho para o que foram as "Melhores ideias de 2009" e vejo-me a mim... não, era bom! mas vejo a minha ideia. Vejo o que andei a pensar desde 2002... fui fazendo contas, fui evoluindo a minha ideia, mas nunca a passei a real. Mas vejo-a, agora e aqui no "Expresso". Bem haja é o nome da empresa, Mal haja quem me "roubou a ideia". Quem devo culpar? Não posso ser eu... tento a Marta pela sua busca de futuro em mim, mas não... tento o IST por me ter aprisionado tanto tempo, mas não... tento nós, portugueses, a nossa cultura, o nosso pensamento, nós... é sempre mais fácil.

E afinal não será esta minha derrota uma fotografia do que somos? Esta veia que nos une, que nos agarra ao comodismo, à segurança, esta senda do nacional-subsidianismo, esta falta de confiança para avançar. "Bem haja" a quem arrisca e "mal haja" a mim que me fiquei pela boa ideia... faltou-me concretizar.

3 comentários:

  1. ahahah
    epa, lembro-me perfeitamente de me falares dessa ideia!

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  2. Pois é, de facto falas bem...mas tudo tem de ser contextualizado. Ora vê, há alguns anos atrás (não muitos) os riscos que se corriam quando, como tu dizes, se saía da zona de conforto, se pensava numa ideia e a punha em prática eram poucos. Vários o fizeram. Histórias como a do meu avô que veio das berças onde pastava vacas às 4h da manhã desde os 8 anos para Lisboa, com dinheiro emprestado do meu bisavô (que devolveu, com juros!) e fez a fortuna que fez...Há muitas. Não lhe retiro nenhum mérito, mas que tinha ele a perder? Ou tudo ou nada, lema que quase certamente guiou os "implementadores" da ideia bem haja. Mas e hoje? O que é que se perde? Os jovens, mal conseguem arranjar emprego, quanto mais um que gostem, quanto mais um que lhes dê segurança, estabilidade e remuneração adequada...As casas, porque empréstimos é mentira, alugam-se mas verdadeiramente nem isso me parece sustentável face ao que um só ganha...Então se se inicia uma família, pior...Quais as alternativas que nos restam?? Uma vida relativamente monótona, com pouco espaço para mudança e algum constante medo de uma deposição de funções...Se temos casa, família e emprego que até nem desgostamos de todo, vamos colocar-nos em risco para quê? Para irmos mais longe, claro...Para testarmos as nossas capacidades de por um projecto que nos diz muito em prática, claro...Para enverdarmos por um novo desafio, mais estimulante, que nos poderá dar mais frutos, claro...E então? Se correr mal? Oh, arranjamos outro emprego...fácil, não? Oh, um dos salários há-de dar para pagar casa, comida, passes, luz, gás, electricidade...fácil, não? Claro que não! Hoje em dia não somos pioneiros em nada...É preciso bater muito no fundo, para se largar tudo e ir por um caminho novo, do zero, cheio de incertezas e riscos. Ainda bem que não estamos aí.

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  3. Compreendo esse ponto de vista. No entanto, acho que vem/implica um pensamento muito securitativo, na medida em que o arriscar deverá ser, primordialmente, ou para quem tem muito pouco a perder, ou para quem possui uma boa folga financeira.
    Ao mesmo tempo, quando dizes que este não é um bom momento por causa da crise, pode-se tentar ver as coisas pelo outro lado, na medida em que começando agora, e não tendo a sorte de ver singrado o projecto, é expectável que quando se voltar a procurar emprego a economia se encontre mais animada, a crescer e, como consequência, com mais espaço para empregar.

    Como em tudo, os pontos de vista podem sempre ser moldados de acordo com a nossa vontade e com o nosso background.

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